Quatro Anos de História

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010 22:02 By ANEL ABC , In

HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DO GRÊMIO EDSON LUÍS – Por Fabio Telles, ex-aluno de 1990-94
Extraído do blog: midstorm.org/~telles/

Este texto foi escrito em 1996 para a última edição publicada do jornal “Estopim”. O Estopim era um jornal feito na ETE “Lauro Gomes”...

1992 foi um ano que, com certeza, marcou a história de nosso país e da ETELG. A partir de maio, escândalos do governo Collor enchiam páginas e páginas de jornais e revistas, ocupavam lugar de destaque nos telejornais do Brasil e do exterior, reascendendo uma chama há muito tempo apagada: o movimento estudantil.

Os estudantes, posteriormente chamados de “caras-pintadas”, tomaram as ruas de todo o país, inundando-as de milhões de estudantes pe¬dindo a saída do então presidente. Em São Bernardo, não foi e nem podia ser diferente e, com certeza os estudantes da ETELG ocuparam um lugar de destaque participando de vários atos públicos no ABC e em São Paulo, pedindo ética na política.

Foi no auge desta movimentação que um grupo de eteanos, bichos e veteranos, iniciaram a concretização de um antigo projeto: a criação de uma entidade na ETE que lutasse pelos direitos dos estudantes, por melhorias na escola e também esclarecesse os alunos sobre seus deveres.

A princípio, as reuniões eram feitas meio que às escondidas nos blocos 2 e 3 e no “bloco 7”, devido ao fato de que vários outros alunos já haverem tentado criar um grêmio em anos anteriores chegando mesmo a serem ameaçados de expulsão. A primeira tentativa de se formar uma Comissão Pró-grêmio foi boicotada pela direção até a convocação da primeira reunião oficial em outubro de 1992. A partir deste momento, seguiram-se inúmeras reuniões, assembléias, discussões e também confusões e brigas; foi realizado um plebiscito para que os alunos aprovassem o estatuto do grêmio, até que no dia 28 de novembro de 1992 foi oficialmente fundado o Grêmio Estudantil “Edson Luís”, numa assembléia que também instituiu uma diretoria provisória até a realização da primeira eleição.

Quando todos pensavam que a parte mais difícil do trabalho havia terminado, descobriram que agora é que ela viria. O grêmio tinha um nome, um estatuto, uma diretoria eleita pelos alunos, mas não tinha uma sede apesar do tamanho da escola e do número de salas desocupadas. Após inúmeros pedidos feitos em vão, decidiram que seria montada uma barraca na praça do bloco central que funcionaria como sede; alguns dias após esta decisão, os gremistas foram informados pelo então diretor Pedro Ravelli que a sala 300 – antiga sede da Cooperete – seria cedida ao Grêmio, o que acabou não acontecendo.

Em 1993 o Grêmio realizou sua primeira atividade apresentando a escola aos “bichos”. Neste ano também ocorreria a primeira eleição para a diretoria do Grêmio e para o conselho de representantes de habilitação. Isso significava convocar uma Assembléia Geral para formação da Comissão eleitoral, responsável pela abertura inscrição para candidatos e chapas, estabelecimento de prazos e datas de campanha e votação e confecção de cédulas e urnas. Infelizmente apenas uma chapa se inscreveu e devido à inexperiência da Comissão Eleitoral a eleição foi fraudada. Resultado: todo processo eleitoral teve que se repetir em um curto espaço de tempo. Além disso naufragava a primeira tentativa de se fazer e veicular um jornal do Grêmio: O ESTOPIM. Apesar de todas estas dificuldades incluindo a de não possuir uma sede, o Grêmio ainda conseguiu realizar uma sessão de vídeo no anfiteatro apresentando o filme “The Doors”, um debate sobre presidencialismo, parlamentarismo, república e monarquia...

1994, ano de eleição para diretor. O diretor e candidato a reeleição para o cargo, Pedro Ravelli, agora cede ao grêmio uma minúscula sala no bloco central – a sala 10.1. A conquista da sede facilitou e agilizou o trabalho do grêmio, que no decorrer do ano mobilizou a escola diversas vezes levando a comunidade eteana a participar de discussões e atos por melhorias do ensino, melhores salários para os professores e diversas outras campanhas.

Após ter seu plano bienal – plano de trabalho do diretor para os 2 anos subsequentes – rejeitado pelo CEETEPS, por ser considerado insuficiente, o então diretor organizou um abaixo assinado pedindo uma reavaliação de seu plano, afirmando que havia sido elaborado por toda comunidade e convocou representantes do grêmio para que estes assinassem em nome dos estudantes da escola. Diante de tal “pedido”, os representantes solicitaram tempo para consultar a diretoria da entidade, que unanimente recusou tal proposta uma vez que o plano não havia sido discutido com os alunos, tão pouco elaborado coletivamente. Quando informado de tal decisão, o diretor mudou completamente sua política em relação ao grêmio, iniciando uma perseguição aos seus membros, chegando mesmo a afirmar em tom de ameaça: “EU DESTRUO VOCÊS” – frase que consta nos autos da sindicância instituída para investigar a administração do diretor. Neste ano, o grêmio sentiu-se obrigado a fazer campanha pela abstenção do voto para diretor.

Após essa série de acontecimentos, na véspera da realização da eleição, os alunos Uiram Kopcak e Ricardo Guedes, juntamente com representantes de pais e professores, se dirigiram a então Coordenadora do ensino técnico do CEETEPS, Marisa Fumanti Chamon, colocando-a a par dos fatos ocorridos na ETELG. Imediatamente ela os encaminhou ao Diretor Superintendente, Elias Horani, que ouviu atentamente toda a história. Na mesma noite, foi enviado à escola documento cancelando a eleição. Contrariando a decisão do CEETEPS a votação foi iniciada e até a sua interrupção, feita em ocasião da chegada da prof. Marisa, apenas 2 alunos haviam votado, confirmando assim o sucesso da campanha feita pelo grêmio. Neste ano ainda, o grêmio organizou debate entre candidatos à deputado e realizou a 1ª Festa Junina da ETELG.

1995, depois de um certo atraso para a realização da eleição da nova diretoria do Grêmio, finalmente foi instituída uma Comissão Eleitoral, que cuidou da inscrição das chapas e da organização do pleito. No 2º dia de votação, alguns alunos de MC violaram a urna, anulando, assim, a eleição e atrasando a troca de diretoria. Finalmente, conseguiu-se concluir o processo, onde apenas uma chapa se inscreveu.

Em virtude da ameaça de privatização das ETE’s, o Grêmio organizou assembléias com toda a comunidade eteana, trouxe os deputados Clóvis Volpi e Prof. Luizinho e a presidente do Sindicato dos Trabalhadores do CEETEPS, Celeste para um debate sobre o mesmo tema e levou a comunidade até a Secretaria de Ciência e Tecnologia e ao CEETEPS para protestar contra isso. Realizou também a Festa Agostina (uma 2ª versão da Festa Junina), organizou campeonato de Futsal, de tênis de mesa e o 1º Campeonato de Truco da ETELG...

Nova eleição para diretor na ETE e o Grêmio mais uma vez encabeça a campanha de abstenção devido a irregularidade no processo eleitoral e a infeliz data da realização da votação, que se encontrava no meio da semana de V.A. Mais uma vez o Grêmio atinge seus objetivos e a eleição é anulada por falta de quorum no segmento correspondente aos alunos. Pela 1ª vez em toda a sua história, o Grêmio agiu como fator determinante na alteração da história da ETELG. A atitude do Grêmio foi endossada por professores, funcionários, membros da direção e do CEETEPS.

Após este fato o grêmio foi, pela primeira vez convidado a participar de uma reunião de eleição da diretoria da APM, onde devido a sua atuação decisiva, conquistou o direito de eleger um aluno representante na mesma e um fiscal-observador.

Caminhando para o 4º ano de sua existência, o Grêmio carrega consigo, várias conquistas que necessitam ser conservadas, aprimoradas e discutidas com a participação ampla de todos. Tudo o que já foi feito, todas as dificuldades superadas até hoje podem ser poucas se comparadas às reservadas ao futuro do grêmio. Existem projetos, propostas, festas, campeonatos, jornais e clubes que podem ser viabilizados via grêmio. Se levado a sério o Grêmio Estudantil “Edson Luís” tem condições de se expandir e representar o grande potencial dos alunos da ETELG. Alunos com idéias diversas e inovadoras, alunos com capacidade de fazer valer suas vontades. Porém, para que se consiga atingir estes ideais, muitas dificuldades e barreiras precisam ser vencidas, barreiras que só serão deixadas para trás se o grêmio contar com a participação efetiva dos seus membros: os alunos.

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